O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) afirmou, nessa quinta-feira, que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão sendo utilizadas com objetivos eleitorais nos "currais" da Rocinha e do Complexo do Alemão. Ele denunciou o caso ao delegado-geral interino da Polícia Federal, Romero Menezes. Jungmann confirmou a formação de "currais eleitorais" nestas regiões.
"No caso da Rocinha, o traficante Nem, hoje com a assessoria de ex-militantes do Movimento dos Sem Terra (MST), e no caso do Complexo do Alemão, o Jorginho, líder comunitário que tem ligações com o tráfico, estariam fechando essas comunidades, impondo-se como candidatos. Assim passariam a ter um poder derivado do controle das obras do PAC", disse.
O deputado contou ao delegado que vem recebendo informações de que há ameaças de morte a candidatos que tentam fazer campanha eleitoral, mas são impedidos de entrar em determinados territórios porque não integram o esquema do tráfico. Uma das formas de efetuar o controle das obras do programa do governo federal seria por meio da contratação de mão-de-obra. Segundo Jungmann, isso é crime eleitoral.
"Crime eleitoral é Justiça Federal e é também Polícia Federal", afirmou o deputado. "A Justiça Eleitoral tem poder para colocar a Polícia Federal e até o próprio Exército no caso, pois onde há votação, tem a ocorrência da intervenção da Justiça Eleitoral, cuidando da lisura de todas as votações."
Ele também sugeriu que a Polícia Federal e as polícias do Rio, que já investigam a atuação das milícias e do tráfico na formação de currais, trabalhem juntas.
"Cada um na sua esfera, na sua atribuição, deveriam atuar juntas."
O delegado se comprometeu a repassar as denúncias à área de inteligência da PF e disse que levaria o problema ao diretor da corporação, Luiz Fernando Corrêa, que está de férias. O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que a Polícia Federal está à disposição dos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) para investigar a suposta ação das milícias em campanhas eleitorais.
"A PF está à disposição do TRE para fazer investigações que forem necessárias. Mas tem que haver um pedido expresso da autoridade."
No Rio, a Polícia Federal já está investigando a suposta ação de milícias em campanhas eleitorais na cidade. Segundo o superintendente da PF no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, a Delegacia de Defesa Institucional está fazendo levantamento de dados, mas ainda não identificou os grupos que estariam por trás do suposto esquema para proibir campanhas em comunidades.
Dinheiro do campo
A informação de Jungmann vai de encontro a uma foto publicada ontem pelo jornal O Globo onde o líder do MST, José Rainha Júnior, discursa ao lado de Luiz Cláudio de Oliveira, presidente da associação de moradores da Rocinha e que se define como o único candidato a vereador da comunidade. Na ata da reunião do tráfico apreendida pela polícia ontem na favela, há um trecho que faz referência "ao dinheiro do campo", o que pode ser uma ligação do tráfico com o MST, e sobre uma reunião do PAC. No item quatro da ata, o traficante Nem cobra de um homem identificado como Walace o seguinte: "Quero saber sobre o dinheiro do campo e explicação sobre a família faltar na reunião do PAC".