O plano da Nokia para oferecer downloads de música ilimitados desafia o modelo atual do segmento, baseado em venda de faixas individuais, e provavelmente vai incomodar as operadoras de telefonia móvel, que já estão preocupadas com a possível exploração pela Nokia de seu relacionamento com clientes.
A maior produtora mundial de celulares anunciou na terça-feira um acordo com a maior gravadora do mundo, a Universal, que dará aos usuários de aparelhos específicos da empresa acesso a milhões de canções, por um ano. O acordo também permite que os usuários fiquem com as faixas que baixaram depois do prazo de um ano.
A Nokia espera que o acordo com o Universal Music Group, subsidiária da Vivendi e gravadora de artistas e grupos como 50 Cent, Sting e Mariah Carey, seja seguido por acordos com as três outras grandes gravadoras internacionais, como resultado de negociações que já estão em curso.
Modelos de download ilimitado como esse poderiam reanimar o setor de música, que vem encontrando dificuldade para descobrir maneiras de compensar a queda nas vendas de CDs - tarefa que as lojas online de música que vendem faixas individuais, como a iTunes, da Apple, até agora não conseguiram realizar.
"Infelizmente, parece que a única maneira de promover a adoção da música digital no mercado de massa será distribui-la gratuitamente, ou quase de graça", escreveu Mark Mulligan, analista da Jupiter Research, em seu blog.
"Mas se a alternativa for download gratuito de redes ilegais, gerando lucro zero para as gravadoras, não é difícil determinar qual é a opção preferida das empresas", acrescentou.
A Understanding & Solutions, uma empresa de pesquisa, estima que a música para aparelhos móveis represente cerca de 13% do valor mundial do mercado de música gravada. O grupo projeta que o segmento deve ter seu movimento ampliado para US$ 11 bilhões em 2011.
A Nokia e a Universal não revelaram os termos do acordo, mas Rob Wells, que comanda as operações digitais da Universal, disse à Reuters que "a menos que houvesse dinheiro suficiente para a maior gravadora do mundo, não teríamos concordado com a transação."
A nova iniciativa da Nokia, que começa no segundo semestre do próximo ano, acontece pouco depois da empresa lançar em agosto um serviço de mapas, música e jogos pela Internet projetado para conquistar de operadoras celulares uma grande fatia dos gastos dos consumidores com comunicação.
E a oferta "Comes With Music" ("Vem Com Música") anunciada em um evento da Nokia com investidores em Amsterdã, na terça-feira, parece pronta para avançar contra as operadoras de maneira semelhante.
"Por causa da escala deles e da nova estratégia agressiva de Internet, a Nokia está em uma posição única de virar o mercado móvel de música a seu favor", escreveu Mulligan, da Jupiter Research.
Enquanto isso, as operadoras lançaram uma ampla corrente de ofertas para tentarem retomar a iniciativa e altas margens de lucro associadas a serviços populares como downloads de música.
A Vodafone, por exemplo, lançou um serviço móvel de música ilimitada, MusicStation, na Inglaterra no mês passado em parceria com a britânica Omnifone uma semana antes do início das vendas do celular da Apple no país, o iPhone. A Omnifone afirma que tem meta de ter seu serviço acessado por 100 milhões de clientes ao redor do mundo até junho de 2008, ante 45 milhões atuais.
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