O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) renunciou, nesta terça-feira, à presidência da Casa, antes da sessão que julgaria se ele quebrou o decoro parlamentar. Calheiros leu uma carta, dizendo que deixava a presidência "sem mágoas". Ele é o primeiro senador a renunciar à presidência da Casa.
Calheiros afirmou que o cargo é uma "conseqüência do cenário político". Ele disse também que fez questão de mostrar que não usou o cargo para se defender.
O senador também fez diversos agradecimentos durante a leitura da carta. "Agradeço aos ilustres membros dessa Casa pelo apoio e sobretudo pela confiança. Agradeço aos servidores do mais alto ao mais humilde pelo empenho que tiveram. Não medi esforços para estar altura do cargo. Sempre procurei a harmonia com os demais poderes da República, com o governo, sempre em nome do equilíbrio da federação. Compreendo que presidir essa Casa é conseqüência de disputas políticas. Compreendo que é aconselhável deixar o cargo, assim renuncio sem mágoas e sem ressentimentos", disse Calheiros no Plenário.
O comunicado foi feito por ele mesmo cerca de meia hora após o presidente interino, Tião Viana (PT-AC), dar início à sessão. Logo após o anúncio, Viana convocou uma reunião de líderes para terça-feira da semana que vem para discutir a sucessão. A data regimental para uma nova eleição vence na quarta-feira.
Tanto a base quanto oposição preferem esperar um pouco mais para deflagrar a disputa pelo cargo. No PMDB ainda não chegou a um nome de consenso. O único candidato oficial até agora é o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Além dele, Edison Lobão (PMDB-MA) também é cotado para assumir o posto. O líder do partido, Valdir Raupp (RO), também é lembrado, mas nega que pretenda se candidatar.
Calheiros renunciou à presidência após ser absolvido do primeiro processo, o que julgou se ele usou um lobista para pagar suas contas pessoais. Ele ainda responde a outros processos no Conselho de Ética e hoje o Plenário vai julgar se ele usou laranjas para comprar emissoras de rádio em Alagoas.
Leia a carta de renúncia na íntegra:
Senhor Presidente, agradeço aos ilustres membros desta Casa, que, com sua amizade, seu apoio e, sobretudo, sua confiança, distinguiram-me para ocupar, por quase três anos, em duas eleições consecutivas, um dos postos mais honrosos da República, a presidência do Senado Federal.
Agradeço, também sensibilizado, aos servidores desta Casa, do mais graduado ao mais humilde, pela dedicação e empenho que tiveram.
Não medi esforços para estar à altura do prestígio do cargo. No seu exercício, mantive excelentes relações e perfeita harmonia com os demais Poderes da República, com todos os senadores e senadoras, com os governadores e prefeitos, sempre em nome do equilíbrio da Federação.
Compreendo que presidir esta Casa é resultado das circunstâncias políticas. Entendo, também, que quando tais circunstâncias perdem densidade, ameaçando o bom desempenho das atividades legislativas, é aconselhável deixar o cargo.
Assim renuncio ao mandato de presidente do Senado Federal, sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida, demonstrando, mais uma vez, que não usei das prerrogativas do cargo para me defender.
Não adotei este gesto antes pois poderia sugerir, naquele momento, uma aceitação das infâmias e inverdades. Desculpem-me se essa interpretação não pareceu a mais conveniente, mas agi de acordo com a minha consciência, convicto de que era a conduta mais correta.
Meu pensamento, nesta hora difícil de minha vida, volta-se para o povo de Alagoas, que, com sua confiança e soberania, me investiu do mandato de Senador da República, de que tanto me orgulho. Respeitosamente, Renan Calheiros.
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