Um site em que as pessoas falecidas ganham um perfil, recebem mensagens de saudade e até mesmo flores virtuais - gratuitas ou pagas, dependendo do volume e da escolha - está ganhando cada vez mais adeptos na França. O portal, uma espécie de "Orkut dos mortos", já tem mais de 10 mil tumbas virtuais, entre as quais são distribuídas diariamente cerca de 1,2 mil flores, garante o idealizador do endereço, Daniel Coing-Daguet.
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Tudo começou em 2003, quando Coing-Daguet, um trabalhador também apaixonado por informática, criou o endereço www.lecimetiere.net para homenagear seus artistas, cantores e escritores preferidos que haviam morrido. Com o passar do tempo, ele montou perfis para os familiares que partiam, e depois para os amigos, os amigos dos amigos. Até que hoje qualquer pessoa pode se cadastrar no endereço e registrar a página de quem quer que seja - com a condição de que a pessoa esteja morta.
Ao seu lado, na seção "celebridades", estarão personalidades como os escritores Honoré de Balzac e Simone de Beauvoir, o pintor e cientista Leonardo da Vinci e o cantor Freddie Mercury, além de diversos reis, rainhas e princesas da França e de outros países europeus. Até o piloto brasileiro Ayrton Senna tem um perfil - por enquanto sem mensagens escritas nem flores depositadas.
"Já recebi muitas críticas, especialmente de fóruns na Internet, mas acho que é direito de todo mundo poder exprimir a saudade que sente como quer", disse ao Terra Coing-Daguet.
No espaço "petit anges" (anjinhos, em francês), o usuário encontra os perfis de crianças, enquanto que na butique é possível comprar, com cartão de crédito, as "flores" para deixar no túmulo visitado. As flores "duram" sete dias, e depois disso são eliminadas do túmulo - como nos verdadeiros cemitérios. As mais baratas podem ser compradas por 1,5 euro (R$ 3,78).
Adicionar mais de uma imagem no perfil do defunto também não sai de graça: custa 1,25 euro (R$ 3,15) por foto extra − mesmo preço para colocar uma placa de homenagem no perfil do morto.
Para quem não quer gastar nada, no entanto, existem as flores comuns, que podem ser depositadas acompanhadas de uma mensagem ao morto. No feriadão de Finados que acaba de se encerrar, mães, familiares e amigos deixaram recados emocionados nas páginas dos entes queridos.
"Muitas pessoas visitam o site só por curiosidade e ficam horas passando de um perfil ao outro, mesmo que não conheçam pessoalmente ninguém. A morte, apesar de ser um assunto delicado, mexe com todo mundo de alguma forma e a informática acompanha essas sensações", afirmou o criador do endereço.
O site também lembra, na página inicial, os aniversários de morte e nascimento de cada dia. Toda a semana, o cimetiere.net elege de cinco a dez perfis para serem os homenageados, entre os quais um é destacado o perfil da semana.
Entre os perfis mais visitados está o do jovem cantor Gregory Lemarchal, morto aos 24 anos em abril deste ano, em conseqüência de uma fibrose sística, uma doença rara e incurável. O cantor, famoso na França depois de vencer o programa Star Academy - versão francesa do Fama brasileiro -, causou comoção no país ao sucumbir à doença e desde então encabeça a lista das tumbas virtuais mais freqüentadas.
Outros cemitérios virtuais pelo mundo
A iniciativa do lecemitiere.net pode ser inédita neste estilo. O que até então mais havia se aproximado da idéia é o site português www.campavirtual.com, no entanto o endereço parece ainda não ter vingado. Com um layout bastante superior ao do site francês, o campavirtual ainda não tem o principal: "usuários".
A estrutura visual é a reprodução de um cemitério de verdade, com tumbas numeradas e dispostas até mesmo em uma paisagem de cemitério jardim. Porém, em mais de 15 tentativas de encontrar um falecido, a reportagem só encontrou túmulos virtuais vazios.
Outros cemitérios virtuais disponíveis na web são o americano www.findagrave.com, que ajuda o internauta a encontrar onde estão enterrados os seus ídolos em cemitérios do mundo todo, e o equatoriano www.jardincelestial.com, no qual é possível fazer busca de finados em diversos países das Américas. Neste último, os perfis dos mortos são curtos, com uma foto, e não é possível deixar homenagens ao falecido.
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