Preconceito e Ignorância ou, simplesmente, Miopia Social

 

Opinião - 22/04/2016 - 10:15:31

 

Preconceito e Ignorância ou, simplesmente, Miopia Social

 

Vicente Barone * .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais, foi executivo de marketing em empresas multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing e professor na área para 3º e 4º graus

Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais, foi executivo de marketing em empresas multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing e professor na área para 3º e 4º graus

Desde a última segunda-feira, 18, estou acompanhando as manifestações, nas redes sociais, sobre a matéria publicada pela revista Veja que trata de Marcela Temer, esposa do vice Michel Temer, com o título "BELA, RECATADA E 'DO LAR'".

Nunca li tanta besteira junta por milímetro quadrado nas manifestações sobre a referida matéria.

O sexo feminino ocupou, com razão e aplausos, nova posição na sociedade, onde compartilha, com o sexo masculino, diversas responsabilidades e afazeres, entretanto, existem mulheres que optam por cuidar dos filhos, do marido e da casa, tanto no Brasil como em diversos lugares no exterior. Há algo de errado nisso, eu pergunto? A resposta é um sonoro NÃO!

Aquelas que resolveram buscar crescimento profissional e reconhecimento não são melhores do que aquelas que resolveram dedicar sua vida e seu tempo aos filhos e ao bem estar da família.

Aquelas que trabalham por necessidade de complementação da renda familiar também não melhores ou piores do que as que se dedicam à família com exclusividade.

Vamos então analisar a sociedade de hoje e de tempos passados. Hoje as crianças passam a maior parte do tempo nas escolas ou em atividades (boas ou más, não importa analisar aqui) longe dos pais e, quando os encontram, no final da tarde ou à noite e aos finais de semana, pouco tem a dividir com eles. Verdade ou não, as crianças ou jovens de hoje, em termos mundiais, são mais independentes e formam seu caráter e personalidade, muitas vezes, longe do seio familiar alterando, muitas vezes, os valores com que seus pais foram criados.

Não sou contra a mulher trabalhar, não vamos confundir as coisas, mas, também, não sou contra a mulher que toma por opção tomar conta da casa (LAR) e da família como o seu principal objetivo que a satisfaz e complementa.

Com relação a "recatada", bem, aí vamos analisar pela ótica não religiosa e sim de comportamento.

Uma mulher, ou um homem, tanto faz, podem ter ações mais modestas, prudentes, sensatas e condizentes com um comportamento social coerente e educado, levando em consideração a cultura regional e a evolução da sociedade.

Tratando sobre a vestimenta, ninguém, hoje, em sã consciência, vai a um casamento vestindo, única e exclusivamente, roupas íntimas, seria o fim. Qualquer sociedade, em qualquer parte do planeta, guardada a cultura regional, vai se vestir conforme cada momento, situação ou convenção. Não se pode condenar "A" ou "B" por usar e se apresentar com uma determinada vestimenta como se isso a desmerecesse por qualquer motivo.

No início do século mulheres e homens iam à praia cobertos até o pescoço e hoje mal cobrem as partes íntimas e não há nenhum absurdo nisso. A sociedade evoluiu e os valores para se vestir e ir à praia mudaram nos últimos 100 anos.

No início do século a maioria das mulheres não trabalhavam "fora", mas desenvolviam atividades para complementar a renda dentro de seus lares, mas hoje essa figura mudou e a educação contribuiu para a co-responsabilidade.

Marcela Temer

A posição da cientista política Jussara Prá, coordenadora do núcleo interdisciplinar de estudos sobre mulher e gênero da UFRGS, quando diz: "É gratificante saber que não se tolera mais esse tipo de discurso. Há uma consciência do papel da mulher. O ideário feminista está impregnado em toda a sociedade. As pessoas já não aceitam situações de subordinação, não comportam essa lógica patriarcal em que a mulher é submissa e propriedade do homem", é assustadora partindo de uma "catedrática". Deveria ela ser imparcial e avaliar que existem diversas ramificações de uma conceito e mais de um padrão para uma mesma sociedade que se estuda. A posição extremista de Jussara é absurda, partindo do pressuposto de que, em uma sociedade democrática, deve-se aceitar as ideias e posições contrárias. Jussara parece mais uma ativista política extremista do que uma "mestra" com condições de ministrar aulas em uma universidade. Para ela devo dar NOTA ZERO, pois uma "mestra" jamais impõe uma condição, mas dá condições de análise por seus alunos com diversas informações com diversas vertentes. O que é certo para um, pode ser errado para outro dependendo do ponto de vista, da cultura regional, dos preceitos religiosos da comunidade onde está inserida, dentre diversos outros fatores que podem criar caminhos diferenciados e excludentes em cada situação e, em todos eles pode haver certidão, não se devendo excluir nenhum deles por valores pessoais.

Maria Fernanda Salaberry, do Coletivo de Mulheres da UFRGS e da Marcha das Vadias disse "a revista levanta valores que já não existem desde a década de 1950 nos espaços públicos. Ninguém mais defende publicamente que a mulher não trabalhe. Nem minha avó usa a palavra 'recatada'". E complementa "eles (os pais de Marcela) praticamente entregaram uma mulher virgem para casar. Parece que está se falando de um casamento do Oriente Médio, em que se entrega uma menina a um velho rico. E chamam isso de conto de fadas", critica Maria Fernanda.

Não há o que comentar, pois os valores de cada um podem ser deturpados ou não, dependendo de sua base familiar, de criação, ambiente, valores éticos e morais, dentre tantos outros fatores. Do ponto de vista de Maria Fernanda, a diferença de idade ou casar virgem é um absurdo, mas para diversas religiões ou sociedades não, portanto a visão tacanha, exclusivista e reacionária de um não pode sobrepor a visão coletiva, comunitária e cultural de outra. Novamente NOTA ZERO!

Aqueles que defendem uma posição de igualdade, ao mesmo tempo condenam, por puro preconceito, a diferença de idade entre homem e mulher, na formação de um casal, não importando se o homem ou a mulher são muito mais velhos do que o parceiro. Ridículo!

"Uma sociedade só pode evoluir se houver equilibrio e vontade de mudar de todas as partes e poderes que interagem em uma comunidade"

(Vicente Barone em "A Sociedade Moderna ou Modernizada - 1991)

Quanto ao fato de bela, não há necessidade de tecer aqui qualquer comentário, pois o fator estético não cabe como definição para ataque de qualquer espécie.

Os ataques e mesmo as sátiras que li foram muito mais com cunho político de revanchistas pela derrota sofrida por Dilma Rousseff no domingo, do que para avaliar a condição do que é ser "MULHER" na sociedade atual.

* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais, foi executivo de marketing em empresas multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing e professor na área para 3º e 4º graus

 



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