A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) iniciou a semana em forte queda, com o seu principal índice, o Ibovespa, fechando no menor patamar desde abril e as ações da Petrobras com a menor cotação em mais de nove anos, em meio a um ambiente externo desfavorável, após dados mostrarem queda inesperada nas importações da China.
O Ibovespa terminou em baixa de 3,3%, a 50.274 pontos, menor patamar desde primeiro de abril de 2014. Na mínima, chegou a 50.015 pontos.
Em mais um dia de forte queda do petróleo no mercado internacional, as ações preferenciais da Petrobras despencaram 6,20%, a R$ 11,50, menor valor desde 20 de outubro de 2005, enquanto os papéis ordinários caíram 6,38%, para R$ 10,72, menor valor desde 13 de maio de 2005.
Os preços dos bônus da petroleira também caíram significativamente nesta segunda-feira, sendo cotados a 98,373% do valor de face, após atingirem o pico de 111,5% em setembro.
O petróleo tipo Brent caiu mais de 4% e fechou a US$ 66,19 por barril, enquanto nos Estados Unidos o contrato futuro fechou a US$ 63,05.
Cautela entre investidores
Investidores aguardam para a sexta-feira o balanço não auditado da Petrobras referente ao terceiro trimestre. A divulgação do resultado foi adiada em razão das denúncias de corrupção envolvendo a companhia.
O giro financeiro do pregão somou apenas R$ 5 bilhões, abaixo da média do ano, de R$ 7,2 bilhões.
A equipe da mesa de negociação do BTG Pactual disse, em e-mail a clientes, que o baixo volume de negócios na Bovespa nos últimos dias tem chamado a sua atenção, o que, combinado com as primeiras confirmações de saídas de estrangeiros, tem pressionado o desempenho do índice.
O BTG recomendou atenção ao giro nos próximos dias, em um mês que normalmente o volume costuma ser baixo, bem como aos contratos futuros. "Esse final de ano promete...", disse a equipe do banco.
China reduz importação
As notícias vindas da China desagradaram, com números mostrando uma queda inesperada nas importações em novembro, o que tende a afetar papéis de exportadoras de commodities na Bovespa, como Vale, que caiu 3,42%.
O quadro menos amistoso para commodities respingou também em papéis de companhias ligadas ao setor, como transportadoras, entre elas as companhias de logísticas ALL América Latina e Cosan Log.
"A China é o principal destino das exportações de commodities e isso deixou países exportadores de matérias-primas como o Brasil em uma situação complicada", disse o analista de renda variável Fabio Lemos, da São Paulo Investments.
"Houve um aumento da aversão a risco e com isso outros papéis da bolsa acabam sofrendo também, como é o caso das ações da bancos, que tinham certa gordura para queimar", disse, citando também dados negativos de inadimplência pesando no setor.
Bradesco e Itaú ainda acumulam em 2014 ganhos superiores a 20%, mesmo com as quedas de 5% e 3,7% nesta sessão, respectivamente.
Em outro email, o BTG Pactual disse que os dados chineses eram negativos para o setor de aço, e chamou a atenção para a queda nas importações de minério de ferro, atribuída a uma produção de aço mais fraca no mês. As ações das siderúrgicas Gerdau e CSN caíram 4,4% e 5,2%, respectivamente.
Bruxa solta no pregão
A Usiminas segue como um capítulo à parte, conforme persiste a briga entre a Nippon Steel e a Ternium pelo controle da siderúrgica. Na sexta-feira, a ação ordinária da Usiminas, que não faz parte do índice e tende a ter menor liquidez, subiu quase 17%. Nesta sessão, fechou em alta de 4,3%. A preferencial, listada no Ibovespa, perdeu 3,9%.
Embraer chegou a trabalhar no azul, mas fechou em queda de 1,9% após a notícia de que um jato executivo fabricado pela empresa caiu nesta segunda-feira sobre um bairro perto do aeroporto de Maryland, nos Estados Unidos, matando pelo menos três pessoas que estavam a bordo da aeronave.
Eletrobras foi uma das poucas a fechar no azul. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu acolheu parcialmente pedido de reconsideração da estatal no sentido de reconhecer que os valores correspondentes às inadimplências de pagamentos das distribuidoras à companhia devem ser considerados no saldo da Conta de Comercialização de Energia Elétrica de Itaipu.
Na visão do gerente de renda variável da Fator Corretora, Frederico Ferreira Lukaisus, a bolsa segue minada pelo cenário de economia doméstica mais fraca e perspectiva de resultados mais fracos das empresas, além de commodities em queda no exterior, entre outros fatores. "Nada de novo", disse.
Dólar sobe e fecha a R$ 2,61 pela 1º vez desde abril de 2005
O dólar subiu nesta segunda-feira e fechou a R$ 2,61 pela primeira vez desde meados de 2005, com analistas citando uma operação de saída de recursos cujo impacto foi turbinado pelo baixo volume de negócios, em meio a um ambiente externo mais desfavorável.
A moeda americana subiu 0,7%, a R$ 2,6115 na venda, maior cotação de fechamento desde abril de 2005.
Internamente, analistas afirmaram que também tem contribuído para a alta da divisa a incerteza sobre quais medidas a nova equipe econômica tomará para enfrentar o quadro doméstico de inflação alta e crescimento baixo, além do futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio.
Na câmara de dólar à vista da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 750 milhões (aproximadamente R$ 1,9 bilhões). Já no mercado futuro, foram negociados cerca de 220 mil contratos para janeiro, contra a média diária das últimas 20 sessões de cerca de 280 mil.
"Em um dia de baixo volume que nem hoje, qualquer operação acaba fazendo estrago", disse Jaime Ferreira, superintendente de câmbio da corretora Intercam.
Otimismo x Cautela
Segundo operadores, a grande operação de saída de dólares ocorreu aproximadamente ao mesmo tempo em que o petróleo Brent ampliou as perdas para queda de US$ 3 por barril, ainda refletindo a perspectiva de oferta abundante combinada com demanda fraca devido ao enfraquecimento da economia global.
"O mercado está fraco, com pouco volume, o que é tradicional do fim do ano", afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, citando ainda a indefinição sobre as medidas econômicas que serão adotadas pela próxima equipe econômica.
Joaquim Levy e Nelson Barbosa - indicados para assumir os ministérios da Fazenda e do Planejamento, respectivamente - já trabalham para mostrar uma orientação mais ortodoxa na política econômica, o que inicialmente animou os mercados.
Mas após o otimismo inicial, investidores voltaram a adotar cautela, buscando sinais concretos de que as promessas de maior transparência e contenção fiscal serão cumpridas.
"A perspectiva está incerta, o que autoriza uma postura de investimentos mais defensiva. Existe um viés de melhora, mas ainda há muita indefinição", resumiu o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos estrangeira.
Intervenções do BC no dólar
O mercado também busca sinais sobre o futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central, que está marcado para durar até pelo menos o fim deste ano. Se o programa for reduzido ou eliminado, o resultado será uma diminuição da liquidez do mercado doméstico justamente no ano em que se espera que o Federal Reserve, banco central norte-americano, comece a elevar os juros.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, todos com vencimento em 1º de junho de 2015, com volume financeiro equivalente a US$ 198,6 milhões. Foram ofertados papéis para 1º de setembro de 2015 também, mas não foi vendido nenhum.
O BC também vendeu a oferta integral de até 10 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de janeiro, equivalentes a US$ 9,827 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 30% do lote total.
A autoridade monetária ainda realizou nesta sessão um leilão de venda de até US$ 1 bilhão de dólares com compromisso de recompra em 2 de abril de 2015. A taxa de recompra ficou em R$ 2,673874.