Moradores que ocuparam um conjunto habitacional na zona leste de São Paulo entraram em confronto com policiais militares, na manhã desta quinta-feira, durante uma ação de reintegração de posse autorizada judicialmente após a solicitação da Caixa Econômica Federal. De acordo com a PM, o procedimento para reintegrar o Residencial Caraguatatuba, localizado na rua Domingo Rubino, em Itaquera, foi iniciado na última terça-feira. Após dois dias de negociação, a ordem passada aos policiais no local é para que as famílias sejam retiradas mediante força, se necessário, conforme ordem judicial.
De acordo com a operadora de telemarketing Patrícia de Jesus, 33 anos, a polícia entrou no residencial “ameaçando um massacre”. “Meus documentos estão todos lá; o pouco que eu tenho estou perdendo. Por um milagre consegui retirar meus quatro filhos, tenho amigos feridos e existem gestantes lá dentro”, disse.
O que a moradora não disse é desde quando sabia da obrigatoriedade de saída e quem incitou a permanência no local para carrear ao limite com uso da força para desocupação.
Outro morador do residencial, que se identificou apenas como Elias, disse que há “pelo menos 3 mil crianças no lugar onde estão jogando bombas”. Durante o confronto, moradores atacaram com pedras e outros objetos, enquanto a polícia respondia com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, equipamentos não letais e comumente utilizados para dispersar aglomerados como o que aconteceu no local.
“Eles não querem nem saber. As crianças estão acuadas lá dentro”, disse Elias. O processo de reintegração de posse fez com que os moradores do bairro ficassem em casa e os donos dos comércios baixassem as portas.
"Estou há três dias sem conseguir sair para trabalhar e preciso, porque somos só eu a minha filha, que é portadora de necessidades especiais", disse a doméstica Ivani Calhado, 61 anos, que mora a cerca de 100 metros do residencial.
Os movimentos sem teto, que organizaram a invasão, não se importam, ao que parece, com os problemas criados à comunidade local. Sabe-se que as pessoas que invadiram não estão inscritas para terem o direito à casa prórpia pelo programa "Minha Casa Minha Vida", impedindo àquelas inscritas de poderem tomar posse do que, nos termos da lei vigente, teriam o verdadeiro direito. O problema social criado por essas organizações é muito mais político do que visando solução à falácia social e econômica que ainda existe no país.
Já o comerciante Wagner Moraes reclama pelo prejuízo provocado pelo confronto, mas concorda com a ação. "Não consigo abrir o meu salão desde terça-feira, mas acho que é necessário mesmo a polícia agir", disse. A filha dele, a secretária Ariana de Moraes, 29 anos, falou sobre o clima de tensão que tomou conta do bairro nos últimos dias. "Tem viaturas e invasores por todo bairro. É o terceiro dia que não consigo sair de casa para trabalhar", desabafou.
O Ministério Público deveria investigar o que motiva e quem financia essas operações, pois se causam temor e promovem prejuízos às comunidades e àqueles que possuem o direito de posse, devem ser punidas no rigor da lei, principalmente por pertinácia em gerar insegurança à sociedade.