É, na minha modesta opinião, livre o direito de se manifestar contra atos e ações daqueles que deveriam zelar pela garantia da saúde, segurança, educação e transporte. Mas quando os manifestantes confundem o direito de dar sua opinião e protestar com o ato de depredar e promover tumulto com o prejuízo de outrem, nesse momento perdem a razão e seus direitos deixam de existir.
A polícia agiu dentro dos limites e impediu que arruaceiros ampliassem seus atos de destruição e que, finalmente, o direito de ‘IR e VIR’ dos demais cidadãos fosse reconduzido à normalidade.
Nota-se que o movimento passou a ter um caráter muito mais político do que da real defesa de quem precisa utilizar-se de um transporte público.
Sindicalistas, alguns presos, e militantes de partidos de extrema esquerda, infiltrados na manifestação, gritavam palavras de ordem que incitaram em ações não civilizadas contra o patrimônio público e privado.
É preciso dizer também que o transporte público deixa a desejar e promove superlotação e demora nos trajetos, isso devido ao planejamento de mobilidade urbana ter sido relegado nas últimas décadas. No exterior, o transporte de alta capacidade (metrô e trens) recebe investimentos de porte de forma a suportar o crescimento do tráfego e do número de usuários. No Brasil, o investimento é negativo e prioriza-se a valorização dos meios de transporte de média capacidade que, além de não atenderem corretamente ao crescimento da demanda, ainda possuem altos custos operacionais e prejudicam o meio ambiente.
Os governos, federal, estadual e municipal, devem atentar para as vias que estão, a cada dia, mais estranguladas e promover intervenções com obras subterrâneas ou aéreas necessárias para aliviar o número de veículos que transitam nas vias públicas. O aumento do poder aquisitivo, os fartos e longos financiamentos e o subsídio com a redução de impostos sobre os veículos, permitiu que muitos adquirissem seu primeiro automóvel, porém não houve, em contrapartida, um investimento adequado na ampliação de vias e alternativas de mobilidade.
Saindo no prejuízo, a população acaba por ter de suportar o preço dos erros cometidos por governantes que deixaram de lado importantes ações que, se tomadas, permitiriam mais opções de transporte além da melhora na duvidosa qualidade de serviço prestado pelas empresas de ônibus.
Analisando pelo lado macro, notamos que as responsabilidades dos governos de todos as instâncias deixam a desejar em todas as áreas de atuação que são fundamentais e fazem parte dos direitos primários dos cidadãos, ou seja, habitação, saúde, educação, abastecimento e transporte.
Chegamos ao ponto do quase total descontrole promovido pela inércia de ações dos executivos municipais, estaduais e federal no que se refere ao planejamento e execução de programas que venham a suprir esses direitos básicos dos cidadãos que pagam seus impostos e, em retorno, recebem serviços públicos ou gerenciados por órgãos ligados à administração pública, cada vez piores.
É, portanto, a teoria de ‘causa e efeito’ atuando, no caso em questão eu diria que está mais próximo da teoria do ‘caos’.
* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação e foi professor de Marketing para 3º e 4º graus.