Para o filme que promete ser a grande bilheteria do cinema nacional neste primeiro semestre de 2011, há aqueles que irão apenas para ver Deborah Secco nua, há os que pagarão o ingresso porque se trata da história da garota de programa mais famosa do País e, em sua maioria, a fila vai crescer nas redes multiplex porque a combinação entre a persona de Deborah Secco e a persona Bruna Surfistinha é por demais tentadora para resistir. E à margem de todo esse gigante público-alvo, há uma parcela de gente que vai entrar no cinema disposta a falar mal do filme. Todos esses segmentos de espectadores devem, de um jeito ou de outro, sair da sala com um conflito entre sua expectativa inicial e o produto final em tela.
Extraindo de cena valores morais e a representação da nudez e do sexo em si, Bruna Surfistinha é, essencialmente, um filme que dá certo. Sem mérito ou demérito implícito. O primeiro longa de ficção do diretor Marcus Baldini funciona porque foi, ao mesmo tempo, despretensioso dentro do set de filmagens e corajoso fora dele. Criando um roteiro redondo para um livro que conta a versão da própria Bruna sobre os altos e baixos de sua carreira como garota de programa, Baldini consegue contar a história do jeito como a personagem é vendida: como entretenimento e nada mais. Para isso, construiu uma trama comportada num filme de marketing naturalmente agressivo.
Não há reflexões profundas sobre o ofício da prostituta, nem escavações emocionais nos conflitos familiares que levaram Raquel Pacheco, nome real da Bruna Surfistinha, a chegar onde ela chegou. Mas há uma construção bem honesta de como a personagem passa por diferentes camadas de conquistas e frustrações ao longo de sua trajetória. Deborah Secco está bem no papel, ainda que dificilmente consigamos nos desvencilhar da imagem da atriz que se ergue diante da personagem. Há de se reconhecer, no entanto, seu esforço em dar o tom da descoberta e do "desvirginamento" da moça diante da realidade do sexo pago, do muquifo dividido, das roupas de cama que precisam ser lavadas a toda hora.
Para quem espera por sacanagens pouco convencionais e mais violentas, é preciso salientar que o filme suaviza e plastifica aquilo que, numa proposta menos comercial, seria facilmente percebida como situações indigestas. Ou seja, aos que vão assistir a Deborah Secco nua, ok, ela passa boa parte do filme exibindo sua boa forma em nus quase frontais. Sim, quase. Aos que vão torcendo por cenas de sexo mais quentes tais como as relatadas pela própria Bruna Surfistinha em seu livro - O Doce Veneno do Escorpião -, entendam que este é um filme censura 16 anos, portanto, nada tão absurdo assim vai pular em tela grande na sua frente. É tudo quase chocante, pero no mucho.
Em passos cuidadosos, bem filmados, bem editados e excepcionalmente bem musicados por uma trilha forte, a trama toma caminhos naturais: começa no núcleo familiar, logo passa para o chamado "privê" onde ela é contratada como garota de programa para a casa administrada pela personagem de Drica Moraes - que, aliás, dá sempre um espetáculo à parte em cena -, caminha depois para o momento em que ela passa a ter carreira solo, quando finalmente inaugura seu popular blog e na sequência se afunda no período em que a personagem cai do salto e "miguela" seu corpo por muito pouco para conseguir comprar cocaína. Naturalmente, o filme tem seu desfecho no momento em que Bruna volta, por alguns instantes, a ser Raquel. Fecha-se o ciclo do autodescobrimento.
Nesse percurso, a protagonista lida mais diretamente com algumas personagens centrais em sua trajetória. Além da cafetã vivida por Drica Moraes, há a primeira rival vivida pela também excelente Fabiula Nascimento, há a melhor amiga interpretada por Cristina Lago, a pretensa amiga da alta sociedade vivida por Guta Ruiz e, claro, o cliente que termina se apaixonando pelo produto que compra, aqui na pele do ator que, recentemente, tem sido pé-quente em bilheteria: Cássio Gabus Mendes (Chico Xavier e Se Eu Fosse Você 2). E pelo ritmo e decisões do roteiro despretensioso e, mais uma vez, quase complacente com uma personagem quase heroína, tudo indica que Gabus Mendes vai novamente vingar uma bilheteria milionária numa produção co-estrelada por ele.
Bruna Surfistinha
Uma garota passou de uma vida padrão classe média ao mundo da prostituição e drogas, logo depois virou fenômeno na internet, lançou 3 livros e finalmente tem um filme baseado em seu best seller de estréia... isso tudo com menos de 30 anos!
A história de Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, começou em Sorocaba onde nasceu em outubro de 1984. Adotada por sua família, estudou em colégios particulares da cidade e logo depois em São Paulo, para onde se mudaram.
Justamente a descoberta do fato de ser adotada foi um dos motivo que causaram suas fugas de casa em São Paulo aos 17 anos. Descobriu então o mundo das drogas e do sexo pago. Quando resolveu usar o pseudônimo Bruna Surfistinha, já atendia os clientes em bairros nobres da capital paulista, numa média de quatro por dia. Foram mais de 3 anos de atividade e mais de 3 mil programas, segundo seus cálculos.
Através de um blog começou a comentar sua rotina como prostituta em 2004. De uma forma direta e descompromissada os textos começaram a correr a blogosfera brasileira e logo os posts viraram sucesso na mídia.
Bruna Surfistinha tinha prazo e data de validade. O prazo era sua meta financeira, a data, seu aniversário de 21 anos. Logo depois do final de sua carreira de garota de programa, assinou contrato com uma editora para lançar seu livro de memórias, "O Doce Veneno do Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa", uma descrição da vida como prostituta escrita pelo jornalista Jorge Tarquini, que recolheu os seus depoimentos.
O livro vendeu mais de 300 mil cópias e foi lançado em mais de 30 países. O livro tem 172 páginas, sendo 36 lacradas, com as histórias mais tórridas.
No dia 27 de abril de 2006 o jornal americano The New York Times publicou um artigo sobre o fenômeno, intitulado, em tradução livre, “Aquela que controla seu corpo pode irritar seus compatriotas”, assinado por Larry Rohter. O artigo comenta a popularidade do livro de Raquel “Bruna Surfistinha” Pacheco no Brasil.
No ano de 2006 é lançado mais um livro de Raquel: "O que Aprendi com Bruna Surfistinha", com textos do mesmo jornalista Jorge Tarquini. A publicação alcançou vendagem de 18 mil exemplares. É uma continuação dos relatos de sua vida como garota de programa, com direito a histórias de envolvimento com jogadores de futebol, galã de novela e outros clientes famosos.
Em 2007 é lançado o terceiro livro da série escrita por Raquel Pacheco. Intitulado "Na cama com Bruna Surfistinha", Raquel dá dicas que vão de posições diferentes a instruções de como tornar a relação mais apimentada.
No filme, Raquel faz uma ponta no filme, e muitas amigas dela participaram como figurantes nas cenas da famosa Love Story.
O Filme
Um dos filmes mais aguardados de 2011 no Brasil, o filme Bruna Surfistinha, dirigido por Marcus Baldini e protagonizada por Deborah Secco, conta a história da menina de classe média paulistana, desajustada aluna de um colégio tradicional, que um dia decide fugir de casa e virar garota de programa. Raquel se torna Bruna e ganha fama, inicialmente na internet, ao contar de forma direta e sem pudores seu cotidiano sexual-afetivo em um blog e depois nos livros.
Livremente inspirado no best-seller O Doce Veneno do Escorpião, o livro que deu origem ao filme foi lançado em 2005, vendeu mais de 300 mil exemplares e foi lançado em mais de 30 países.
Foram nove semanas e meia de filmagens, entre outubro e dezembro de 2009, em São Paulo e Paulínia, próximo a Campinas. Com orçamento de R$ 6 milhões, o filme tem no elenco ainda Cassio Gabus Mendes, Drica Moraes, Fabiula Nascimento (de Estômago), Cris Lago (de Olhos Azuis) e Guta Ruiz (da série Alice).
FICHA TÉCNICA
Direção Marcus Baldini
Produção executiva Rodrigo Letier, Lorena Bondarovsky e Bianca Villar
Roteiro José Carvalho, Homero Olivetto e Antonia Pellegrino Baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião” de Raquel Pacheco em depoimento a Jorge Tarquini.
Direção de fotografia Marcelo Corpanni
Direção de arte Luiz Roque
Figurino Leticia Barbieri
Maquiagem Gabi Moraes
Direção de produção Justine Otondo
Assistência de direção Luciana Baptista e Gabriela Ribeiro
Som direto Louis Robin
Pós-produção Anna Julia Werneck
Edição de som Miriam Biderman e Ricardo Reis
Mixagem Paulo Gama
Montagem Manga Campion e Oswaldo Santana
Produção Roberto Berliner, Rodrigo Letier e Marcus Baldini
Produção TvZERO
Co-produção Damasco Filmes e RioFilme
Distribuição Imagem Filmes