O burburinho era novo, mas a cena não. Anunciada com euforia pela Rede Globo, o assassinato de Saulo, em Passione - não precisava ser gênio para descobrir que ele era o único personagem que poderia deixar a novela sem deixar lacunas na trama -, foi primeiro lugar em audiência, segundo dados preliminares do Ibope, mas a sensação foi de reprise.
No tempo em que a internet e a TV a cabo são ameaças iminentes ao império das emissoras de TV aberta e consequentemente das novelas (a audiência hoje não é comparável com a dos anos 1980 e 1990), Silvio de Abreu poderia, muito bem, trazer alguma inovação. O capítulo de Passione foi basicamente um remake do capítulo em que Bia Falcão desapareceu em Belíssima (2005), do mesmo autor. Se formos mais longe, também notaremos semelhanças com a explosão do shopping em Torre de Babel (1998). Silvio de Abreu ataca outra vez.
A fórmula é simples: basta colocar todos os personagens - do núcleo B ao núcleo A - em situações comprometedoras. Ninguém aparece, todo mundo dá desculpas esfarrapadas sobre o que fez na hora do assassinato, se finge de bobo por alguma razão inexplicável e aí você forma uma série de suspeitos, numa tentativa de prender a audiência até o último capítulo, quando provavelmente o assassino será revelado. Isso porque eu não citei os bons e velhos flashbacks, basicamente uma muleta de roteiro na tentativa de refrescar a memória do espectador.
Em Belíssima, os mesmos elementos foram utilizados. A mesma cena, porém em épocas e novelas diferentes. A futura reprise no Vale a Pena Ver de Novo ou no canal a cabo Viva não nos deixará mentir.
Que a trama do "quem matou?" ainda funciona - mesmo após 21 anos da exibição de Vale Tudo, na dobradinha de Aguinaldo Silva e Gilberto Braga -, ninguém nega. O grande problema é que Silvio de Abreu, apesar de uma brilhante carreira e textos que não raros são absolutamente superiores aos de outros autores brasileiros, já mostra cansaço e falta de criatividade em Passione. Bem que ele poderia aproveitar a presença de alguns brilhantes atores de seu elenco - celebremos Fernanda Montenegro - e de umas agradáveis surpresas, como Cauã Raymond e Mayana Moura, para fazer uma novela que nunca assistimos. Ou que, pessoalmente, não se apoie em clichês. Talvez seja esse frescor que os folhetins brasileiros precisem. De clichês, já temos o bastante com as Helenas e o perfeito Leblon de Manoel Carlos. O público não precisava disso.