A comerciante Ana Cristina Garrido, 48 anos, que foi feita refém nesta sexta-feira em Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, afirmou que o momento mais tenso foi quando o bandido tirou o pino da granada que segurava. "Nessa hora pensei que fosse morrer", disse.
O assaltante, morto com um tiro na cabeça, disparado por um atirador de elite, era Sérgio Ferreira Pinto Junior, 24 anos. Ele tinha duas passagens pela polícia. A primeira delas, em 2005, foi por porte ilegal de arma de fogo. Junior foi autuado na 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo). Ano passado, sua ficha criminal aumentou quando foi autuado na 14ª DP (Leblon) por furto, estelionato e desacato à autoridade.
Ana Cristina é sócia há três meses da filha Cássia, 22 anos, na farmácia em Vila Isabel. Por volta das 10h desta sexta-feira, a comerciante estava com a filha no escritório do estabelecimento no momento em que Sérgio entrou com uma bomba na mão. Os funcionários e Cássia conseguiram escapar, mas não a proprietária.
O criminoso ameaçou explodir a farmácia e um dos PMs que perseguiam o bandido atirou. Ele foi atingido por um estilhaço de bala na barriga e produtos da farmácia foram quebrados. O assaltante, então, deu uma gravata na vítima e foi para a calçada. Ao rendê-la, com uma granada na mão, o bandido disse para Ana Cristina que ela teria que conseguir um carro para levá-lo para a "comunidade". Enquanto policiais militares do 6º BPM (Tijuca) negociavam com o assaltante, Ana Cristina disse que não imaginou que havia um atirador da PM posicionado.
Assim que Ana Cristina foi feita refém, Cássia ligou para o pai, José Garrido, que fazia compras numa loja de material de construção no Recreio, zona oeste do Rio. Desesperado, ele seguiu em direção à farmácia, falando o tempo todo com a filha. Ao chegar à rua Uruguai, o trânsito estava ruim. Então ele parou o carro e pegou um táxi. Perto do local do cerco policial, quando saltava do táxi, ouviu pelo celular o barulho do tiro e a filha gritando: "minha mãe, minha mãe". Ele pensou que a mulher tivesse sido atingida, mas logo depois a filha avisou que quem havia sido alvejado tinha sido o criminoso.
O crime
O assaltante havia tentado roubar uma Kombi dos Correios. Policiais do 6º BPM (Tijuca) foram acionados e o bandido, que tentou se infiltrar entre os pedestres, mostrou uma granada. Três homens que estariam com ele fugiram.
Já na calçada, ao lado de um orelhão, o assaltante gritava que não queria ser preso novamente e que não tinha nada a perder. "Vou explodir tudo. Quero soltá-la, ela tem família", disse.
Dois policiais ficaram quase 40 minutos negociando, até a chegada do tenente-coronel Fernando Príncipe, comandante do 6º BPM (Tijuca). A rua foi isolada. Por várias vezes, o ladrão falou ao telefone com uma pessoa.
Enquanto isso, um atirador de elite da PM se posicionou no prédio do outro lado da rua. O militar aproveitou o momento em que a vítima se abaixou e fez o disparo que matou o bandido.
Ao deixar o local, a Polícia Militar foi aplaudida por pessoas que acompanhavam o drama da calçada. A mulher, que foi levada para o Hospital do Andaraí, já foi liberada e passa bem.
"Estávamos acompanhando o bandido de perto e de longe. Tentamos uma relação de confiança, mas ele estava mostrando violência. Chegou a retirar o pino da granada e o colocou no lugar em seguida. Decidimos, então, neutralizá-lo com o disparo do sniper (atirador de elite). Tínhamos a certeza que era a hora certa de atirar. Hoje foi mais um exemplo de que estamos no caminho certo", disse o tenente-coronel Príncipe.
Ônibus 174
Outro caso de sequestro que marcou o Rio de Janeiro e o Brasil, foi o do ônibus 174, que fazia a linha Gávea-Central do Brasil. O crime aconteceu no dia 12 de junho de 2000. A professora Geisa Golçalves chegou a sair do veículo na companhia do sequestrador, Sandro do Nascimento. Os dois terminaram mortos.
O tenente-coronel Fernando Príncipe, que atuou no caso do sequestro da proprietária da farmácia na Tijuca, esta manhã, também estava no caso do ônibus 174, há nove anos. Na época ele era sub-comandante do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar.
De acordo com Príncipe, o sucesso de hoje não pode ser comparado com a operação que terminou com dois mortos, no ano 2000. "Embora as ocorrências se pareçam, a decisão era completamente diferente", disse ele.