O Ministério Público Federal em Belo Horizonte (MG) ofereceu nova denúncia contra Marcos Valério Fernandes de Souza e seus ex-sócios Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso. Eles são acusados dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Na verdade, segundo o MPF, esse processo de lavagem de dinheiro tinha o objetivo de viabilizar a dissimulação da natureza e origem dos valores provenientes de crimes contra a administração pública decorrentes do esquema que ficou conhecido como mensalão mineiro.
O inquérito do mensalão mineiro investiga a suposta prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, durante a campanha para a reeleição do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais, em 1998. Caso a denúncia contra o senador seja aceita, ela passará a figurar como réu em ação penal no STF.
De acordo com a denúncia do MPF, foram efetuadas, entre os anos de 1998 e 2000, várias remessas ilegais de dinheiro ao exterior, em valores que ultrapassaram 620 mil dólares. Os valores foram movimentados por meio da conta Beacon Hill, pertencente ao esquema do Banestado.
Segundo o MPF, a Beacon Hill Service Corporation funcionava como uma espécie de "instituição financeira" por meio de uma conta mantida no JP Morgan Chase/NY. Apelidada de conta-ônibus, ela abrigaria dezenas de outras subcontas, pertencentes em sua maioria a doleiros brasileiros, que operavam entre si por meio de um sistema de compensação paralelo, à margem da lei.
Os recursos seriam transferidos para o exterior, via contas CC5, e a Lonton Trading, por sua vez, emitiria cheques no Brasil com o objetivo de quitar supostos débitos de responsabilidade da SMP&B, empresa pertencente aos acusados.
Durante as investigações, apurou-se que os valores eram remetidos ao exterior, mas, na contabilidade da SMP&B, apareciam como lançamentos a favor de empresas brasileiras.
O esquema foi descrito minuciosamente na denúncia oferecida pelo procurador-geral da República perante o STF em 2007. A denúncia relatava que as empresas DNA Propaganda e SMP&B, pertencentes a Marcos Valério, Clésio Andrade, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, supostamente criadas para atuar na área de comunicação e publicidade, mas sabidamente voltadas para a atividade de lavagem de dinheiro, foram utilizadas para desviar quantias milionárias de estatais mineiras.
Um dos eventos esportivos citados na denúncia do mensalão mineiro foi o Campeonato Mundial de Supercross, Etapa Brasil, 1999/2000. Esse campeonato, juntamente com o Iron Biker - O Desafio das Montanhas e o Enduro Internacional da Independência, teria sido utilizado como pretexto para que empresas estatais (Comig, a Copasa e o extinto Bemge) pudessem repassar recursos para a SMP&B.
De acordo com a Procuradoria, o grupo também esteve envolvido em crimes contra o sistema financeiro nacional. Em novembro do ano passado, o MPF em Belo Horizonte denunciou Marcos Valério, Ramon Holerbach e Cristiano Paz, juntamente com gestores do Banco Rural, por negociações envolvendo empréstimos temerários, que teriam o objetivo de movimentar os recursos empregados na campanha eleitoral ao governo do Estado e remunerar os acusados pelos serviços criminosos prestados.
Para o MPF, todos esses crimes são antecedentes do crime de lavagem de dinheiro de que são agora acusados Marcos Valério, Ramon Rhollerbach e Cristiano Paz. "Apesar de já terem sido oferecidas outras denúncias, as investigações quanto à movimentação ilegal de recursos no exterior prosseguiram. Nessa nova denúncia foi imputada ao grupo a evasão de divisas e lavagem de dinheiro referente a transações bancárias não albergadas nas outras denúncias, pois quando aquelas foram oferecidas ainda não havia prova hábil para tanto", afirma o MPF.