Embora tenha recebido a aprovação de algumas entidades e parte da população, o toque de recolher conseguiu revoltar outra parte dos moradores de Ilha Solteira. Mãe de três filhos, de 15, 14 e 11 anos de idade, a assistente administrativa Maria Iracilda de Oliveira se rebelou contra a medida e distribuiu uma carta aberta contestando a adoção do toque de recolher na cidade.
Reportagem - Por que a senhora decidiu distribuir a carta?
Maria Iracilda - Senti-me no direito de contestar essa medida porque ela é antidemocrática. Acho que há pais que não cuidam dos filhos ou que têm problemas com os filhos, mas eu quero ter o direito de cuidar dos meus filhos.
Reportagem - A senhora acha que a medida evita isso?
Maria Iracilda - Sim. Eu quero ter o direito de dizer para minha filha que ela pode ou não ir a um baile, a um show, ou poder ficar até tarde na rua. O Estado não tem esse direito.
Reportagem - Então, é uma intromissão.
Maria Iracilda - Sim. O Estado não tem o direito de querer mandar na minha família. O dever do Estado é dar educação, saúde, transporte, segurança; dever, aliás, que vem cumprindo de forma muito precária. Meus filhos não ficam até tarde na rua, mas quem tem o direito de cobrar isso deles sou eu, não o Estado.
Reportagem - A senhora lembra dos tempos da ditadura?
Maria Iracilda - Tivemos um tempo em que o Estado dizia que música a gente tinha de ouvir, que filme deveríamos assistir; e nossa experiência diz que esse tempo não foi muito bom. Não podemos retroceder assim.
Reportagem - A senhora acha que a adoção do toque de recolher foi um exagero?
Maria Iracilda - Sim, um grande exagero. Sei que existem problemas, mas o que o Estado tem de fazer é zelar por esses menores e suas famílias, é implementar programas de apoio e assistência. Será que essas famílias que não conseguem evitar que os filhos saiam nas ruas queriam isso como solução? Acho que essa medida não vai ajudar em nada a solucionar o problema. Não adianta tirar as crianças da rua e deixar os traficantes.