O comandante Carlos Camacho, diretor de Segurança de Vôo do Sindicato dos Aeronautas, afirmou em entrevista ao Jornal do Terra, ao analisar as mensagens enviadas pelo A330-200 da Air France momentos antes da sua queda, que a última transmissão, que apontava "cabine em velocidade vertical", não significa necessariamente que a aeronave estava em um mergulho. "A informação é de que ele estaria talvez perdendo a condição de pressurização. Não quer dizer necessariamente que ele estava em um mergulho, mas que as condições não eram as que deveriam estar naquela situação", explicou. As mensagens analisadas foram consultadas no site do Aviation Herald (www.avherald.com).
Ele disse também que "não é improvável" que tenha ocorrido um atentado a bomba no avião. Segundo ele, essas mensagens poderiam ter sido enviadas mecanicamente, e não pelo piloto.
O comandante ressaltou que, com o conhecimento que os terroristas têm hoje em dia sobre aeronaves, "eles nâo teriam a menor dificuldade de esconder uma bomba num avião".
Ele afirmou ainda que é "uma praxe" que os pilotos desviem de turbulências intensas. "Ele pode inclusive danificar o avião. É notório que nenhum piloto vai entrar numa situação dessas." Uma das mensagens enviados pelo comandante da aeronave notifica que o Airbus atravessou uma área de nuvens cúmulus-nimbus e a primeira mensagem automática enviada mostra que o piloto automático foi desligado.
Segundo Camacho, é comum que os comandantes utilizem o piloto automático na maior parte do vôo, desacoplando-o apenas em casos de turbulências. "O que pode precarizar essa condição é se ele perdesse as condições necessárias para enfrentar essa situação", afirmou o comandante.
O comandante disse que, se o avião tivesse caído em terra, seria mais fácil de determinar, por exemplo, se ele se desintegrou antes de chegar ao solo, devido ao posicionamento dos destroços. "Se o avião cai no seu todo sobre o mar, o oceano é dinâmico. As correntes estão o tempo todo mudando de posição", afirmou, explicando que dessa forma as partes do avião são espalhadas rapidamente.
Apesar de considerar que, se a caixa-preta não for encontrada, isso será um agravante para dificultar as explicações sobre o que levou ao acidente, "hoje em dia esses aviões possuem um dispositivo que transmite sinais via rádio. Esse tipo de comunicação pode levar sinais de dados referentes ao funcionamento de seus motores, dados elétricos etc.".
O acidente
O Airbus A330 saiu do Rio de Janeiro no domingo (31), às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília).
De acordo com nota divulgada pela FAB, às 22h33 (horário de Brasília) o vôo fez o último contato via rádio com o Centro de Controle de Área Atlântico (Cindacta III). O comandante informou que, às 23h20, ingressaria no espaço aéreo de Dakar, no Senegal.
Às 22h48 (horário de Brasília) a aeronave saiu da cobertura radar do Cindacta, segundo a FAB. Antes disso, no entanto, a aeronave voava normalmente a 35 mil pés (11 km) de altitude.
A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). A equipe de resgate da FAB foi acionada às 2h30 (horário de Brasília).