A notícia de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve de ser internada às pressas no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, nesta segunda-feira após apresentar fortes dores nas pernas pegou de surpresa toda a base governista e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que demorou para ser avisado do estado de saúde de sua principal auxiliar. Em viagem à China, o presidente foi avisado às 22h50, horário de Brasília, e a ministra passou mal perto das 16h.
Provável nome do Partido dos Trabalhadores (PT) para suceder Lula em 2010, Dilma deverá receber recomendações indiretas de petistas para que reduza o nível de trabalho e adote uma agenda de compromissos mais branda enquanto se submete ao tratamento completo de quimioterapia para o combate a um linfoma na axila esquerda.
De acordo com petistas ouvidos pelo Terra, apesar da preocupação com a possibilidade de a saúde da ministra oscilar após cada sessão de quimioterapia, ainda não é o momento de se começar a articular um "plano B" e a conseqüente construção de um outro candidato governista à sucessão de Lula. A ordem na legenda é adotar compasso de espera para ver como a ministra se recupera dos efeitos colaterais do tratamento. Embora previstas como uma das reações da quimioterapia, dores nas pernas não são comuns a todos os pacientes.
Na avaliação de petistas, a decisão de descartar o nome de Dilma como candidata governista só deve ser tomada por ela própria ou por uma forte recomendação de seus médicos. "Enquanto nem ela nem o médico disserem que não (pode se candidatar) não haverá nenhum movimento do PT para ela retirar a candidatura", comenta um dirigente. "Essa indisposição da ministra não vai atrapalhar o processo de candidatura dela. Esperamos uma recuperação rápida e que ela possa ter plenas condições de disputas as eleições e vencer já no primeiro turno", completa o ex-prefeito de Recife, João Paulo, coordenador informal da campanha da ministra no Nordeste.
Alguns integrantes do diretório nacional do PT chegam a levantar a hipótese de Dilma Rousseff poder ter "somatizado" a dura agenda de compromissos que tem diariamente com o atual desgaste do governo de enfrentar uma CPI para investigar eventuais fraudes envolvendo a Petrobras.
Às vésperas de um ano eleitoral em que a ministra da Casa Civil deverá ser oficializada como candidata à sucessão de Lula, a ordem no Congresso Nacional é evitar que a recém-criada CPI direcione seus trabalhos para arranhar a imagem da estatal petrolífera e da própria ministra, que responde pela presidência do Conselho de Administração da empresa.
"Estamos chegando em um período eleitoral e a CPI é normalmente um artifício usado pela oposição. Se a oposição for eleitoralizar e fazer exploração política vamos defender. A proximidade eleitoral sempre será um fator complicador nessa CPI", avalia o líder do PMDB no Senado, Romero Jucá (RR).
No governo, após o presidente Lula ter mostrado publicamente confiança na cura do linfoma da ministra, a estratégia de seus assessores foi de o tranqüilizar. Em viagem oficial à China, recebeu notícias do estado de saúde da ministra Dilma pelo próprio médico presidencial, Cléber Ferreira. O discurso em torno de um tratamento "tranqüilo" da saúde da principal auxiliar de Lula foi feito também pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, que recebeu líderes da base aliada para informá-los que Dilma "reagiu bem à medicação" e atualmente está sem sedativo e sem dor e incômodo nas pernas.